Nota de apoio às ocupações das Fábricas de Cultura

¿ESCUCHARON?
Es el sonido de su mundo derrumbándose.
Es el del nuestro resurgiendo.
El día que fue el día, era noche.
Y noche será el día que será el día.

Após 18 anos do levantamento ocorrido em Chiapas, mais de 40 mil zapatistas tomaram novamente as cabeceiras das cidades que foram palco do enfrentamento armado. Mas, diferente do passado, em 21 de dezembro de 2012, data em que termina [e recomeça] o calendário maia, as cidades foram tomadas em silêncio por uma marcha que se pode escutar em muitos rincões do mundo.

No Brasil, não foi diferente. Depois de anos de governos de conciliação de classes, de um a “abertura política” lenta e gradual que nunca se realiza, do oportunismo da classe política e de freios impostos pelos de cima, mas colocados pelos que vieram de baixo, seis meses após o segundo levantamento zapatista, o som da derrubada do mundo dos de cima pôde ser escutado por centenas de milhares de pessoas no Brasil. Das quebradas para o centro, do centro às quebradas, foi organizada a maior revolta popular que o Brasil já protagonizou. Anos de desespero e sofrimento foram produzindo um espírito de revolta e de raiva que serviram de fermento para as lutas nas ruas contra o roubo diário que o povo pobre, negro e periférico sofre nas catracas da cidade.

Não é de hoje que os ônibus se parecem aos navios negreiros, não é de hoje que temos que ir e voltar empinhocados num transito infernal, não é de hoje que acordamos antes da cidade para chegar no trabalho. Não é de hoje que nossa revolta se expressou no levantamento de massas. Nossos antepassados, os/as quilombolas, já nos ensinaram que a nossa existência depende da nossa resistência, nos ensinaram que a nossa vitória depende da nossa convicção, da nossa força, que não se vende nem se rende.

Os últimos dias de 2012 marcaram a luta dxs de baixo. Foi um marco para uma geração que não acredita mais nas “grandes políticas”, nas “grandes Histórias”, numa geração que aprendeu que a ação direta, a organização dos(as) de baixo, a horizontalidade, a autogestão são poderosos fermentos das lutas, também aprendemos, com Zapata, que um povo forte não precisa de líderes. A liderança é um valor que a burguesia e os poderosos querem introjetar em nós, pois causa disputa e inimizade entre os/as de baixo, torna frágeis as relações porque passamos a acreditar que o problema é o outro que está do nosso lado. Por meio dos valores dos de cima, não nos reconhecemos em baixo. Apenas aprendemos a olhar pelos olhos dos poderosos, a desvalorizar nossos semelhantes. Mas nem sempre nossas lágrimas são de tristeza, hoje, mais do que nunca, nossas lágrimas são de raiva e esperança, de que no futuro, nosso mundo terá bases sólidas para derrubar os muros que sustentam os poderosos.

Dois anos depois, 2015, um novo levantamento protagonizado pela mesma geração que preferiu às ruas do que os gabinetes, que preferiu as lutas do que as negociações e conciliações. Um novo levantamento, agora organizado na sua maioria pelos estudantes pobres, periféricos e negros, que colocou mais uma vez o Estado e seus ventríloquos de plantão de joelhos, tiveram que voltar atras, “suspenderam” o projeto de reorganizar as escolas públicas. Mas sabemos que os poderosos sempre mostram a cara para esconder suas palavras, assim que as promessas de suspensão (como de praxe) não foram cumpridas, apenas serviu para desmobilizar as/os estudantes. Isso porque há ainda hoje inúmeros colaboradores do regime que apenas esperam uma ordem para tentar acabar com a luta do povo.

Os frutos destas lutas estão florescendo. Poucos meses depois, meninos e meninas de 12 a 17 anos, acompanhando o grande número de demissões de arte-educadores por evidentes motivos políticos, cansados das mentiras e falsas promessas, da burocracia burguesa que limita o que podem ou não acessar dentro dos equipamentos de cultura e dos desvios de verba, decidiram ocupar as fábricas de cultura. A ação direta, a horizontalidade, a combatividade e a autogestão são marcas desta nova geração de lutadoras e lutadores, resgatando práticas que são parte da nossa história de resistência, dos/as de baixo.

Neste fim de semana, o Estado conseguiu despejar a última fábrica de cultura ocupada pelos meninos e meninas do capão redondo. Na noite de sábado, como respostas, foi ocupada a Casa das Rosas, museu paulistano administrado pela Poiésis, empresa que também administra as fábricas de cultura. Apesar dxs desocupações, sabemos que a luta continua.

Toda força pra quem luta, todo apoio as ocupações das Fábricas de Cultura!